segunda-feira, 15 de abril de 2013

A FACE AMARELA ( conto para o 7° ano )

A face amarela OS LEITORES bem sabem que eu, Dr. Watson, relatei dezenas de casos solucionados pela inteligência e lógica de meu amigo Sherlock Holmes. Sabem também que foram poucas as vezes que registrei insucessos em sua brilhante carreira. Confesso que não escondo as derrotas. A verdade é que as vitórias de Sherlock foram constantes, sempre que ele se dedicou a esclarecer mistérios ou crimes que pareciam impossíveis de resolver pela maior parte da humanidade; mas também amargou, nesses tantos anos em que convivo com ele, alguns equívocos. É o que ocorreu nesse caso que denominei Aface amarela. Tudo começou quando surgiu um homem em nosso escritório da Rua Baker, 22 I B. Entrou sem bater à porta. Estava bem vestido e tinha um chapéu à mão. Parecia bas¬tante nervoso. Eu lhe daria uns trinta e poucos anos. -Peço-lhesdesculpas,cavalheiros-disse ele, um tanto embaraçado. -Devia ter batido. Mas o fato é que estou sem dormir direito há algumas noites e... Passou a mão pela testa e dirigiu-se ao sofá. Diria que mais caiu sobre ele do que sentou. -Algumas noites sem dormir cansam mais os nervos do que o trabalho... -disse Holmes, com um jeito de intimida¬de que sempre coloca à vontade as pessoas que o procuram. -Em que posso ajudá-lo? -Quero o seu conselho, senhor. Não sei o que fazer. Toda a minha vida parece que está afundando. -a senhor quer me contratar como detetive? -Não é bem isso. Quero a sua opinião porque sei que' O senhor é um homem especial, que desvenda mistérios e conhece a alma humana. Preciso de um conselho. Até para saber o que devo fazer depois. O homem falava pausadamente, mas o tom de sua voz mostrava que seu assunto era doloroso. Continuou depois, com o rosto ruborizado: -É tudo tão estranho, tão delicado. É horrível discutir O comportamento da esposa com dois homens que nunca se viu antes! Mas estou no fim das minhas forças e preciso de conselho. -Meu caro Sr. Grant Munro... -começou Sherlock Holmes. Nosso visitante saltou do sofá. -A quê!-gritou ele.-a senhorsabeomeunome? -Se o senhor pretende permanecer incógnito –disseHolmes, sorrindo -, sugiro que deixe de escrever o nomeno forro do chapéu. E também que não vire o interior dochapéu para aqueles com quem está falando... Holmes sentou-se no outro sofá e pegou o cachimbo.Acendeu-o calmamente, enquanto continuava: -Gostaria também de lhe dizer que eu e meu amigo jáouvimos muitos segredos nesta sala, e a sorte nos sorriu, demodo a trazer paz para muitas almas angustiadas. Esperoque possamos fazer o mesmo pelo senhor. O assim descoberto Sr. Munro passou a mão pela testa diversas vezes,como se os pensamentos lhe fervessem dentro dacabeça.Imagineiqueele seria um homem reservado e orgulhoso,do tipo queprefereescondersuasferidasaexpô-las.Mas,num gesto súbito, esmurrou a mão que segurava o chapéu,como quem nada mais tem a perder, e começou a falar: -Os fatos são estes, Sr. Holmes. Sou casado há três anos. Durante esse tempo eu e minha esposa vivemos bem, ama¬mos um ao outro e nunca tivemos sequer uma discussão. Agora, desde a Última segunda-feira, ergueu-se uma barreira entre nós. Descobri que há alguma coisa na sua vida e nos seus pensamentos que eu não conheço, como se Effie fosse uma mulher estranha, uma desconhecida com quem eu cru¬zasse pelas ruas. Quero saber por quê. Antes de continuar, Sr. Holmes, quero deixar bem claro umacoisa:Effiemeama.Não tenhodúvidasaesserespeito. Eu sinto isso. Mas agora surgiu esse segredo e jamais serei o mesmo com ela, enquanto não esclarecer tudo. -Por favor, Sr. Munro, procure me apresentar os fatos . -disse Sherlock, um tanto impaciente. Nosso cliente respirou profundamente e procurou ser mais objetivo: -Eu lhe direi o que conheço da história de Effie. Era viú¬va, quando a encontrei pela primeira vez, embora muito jo¬vem.Tinha apenas 22 anos. Chamava-se então Sra. Hebron. Foi para a América quando criança, morou em Atlanta I, onde se casou com Hebron, um advogado de grande clien¬tela. Tiveram uma filha. Mas aconteceu uma terrível epidemia de febre amarela e tanto o marido como a menina adoeceram. Vi a certidão de óbito do marido. Essa desgraça abalou a pobre Effie a tal ponto, que ela voltou à Inglaterra, para morar com uma tia solteira em Londres. Não se mu¬dou para cá por necessidade, Sr. Holmes, o marido a deixou muito bem de dinheiro. Ela possuía um capital de 4.500 libras. Eu também não sou pobre, trabalho com cereais e ganho em torno de 800 libras anuais. Na ocasião de nosso casamento, eu e Effie resolvemos alugar uma casa no campo, em Norbury. É um lugar muito bonito, mas afastadoda cidade. Na verdade, entre nossa f.:1zendinhae a estação de trem só existe uma casa no caminho, um pequeno chalé de¬sabitado. No meu trabalho, preciso viajar durante algumas estações do ano, mas praticamente todo o verão posso ficar em casa. Minha esposa e eu fomos realmente felizes durante esses três anos. Nosso visitante fez nova pausa, como se outra dúvida surgisse em sua mente. Holmes, envolto pela fumaça de seu cachimbo, não tirava os olhos dele. -Antes de continuar, gostaria de esclarecer outro ponto. Quando nos casamos, minha esposa passou todos os seus bens para o meu nome, mesmo eu sendo contra isso. Há mais ou menos um mês e meio ela me disse: -Jack, quando você ficou com meus bens, disse que, se eu precisasse de alguma coisa, era só pedir. -Claro - eu falei -, o dinheiro é todo seu. Ela me pediu então 100 libras. Confesso que me assustei com o valor, porque imaginei que ela quisesse apenas um vestido novo ou algo assim. Cem libras é dinheiro para mais de dez vestidos! -Para quê? -perguntei. -Ora, não pensei que você me fizesse tal pergunta. Eu quero esse dinheiro, só isso. -E não me dirá para quê? -Um dia, quem sabe, mas não agora, Jack. Pois bem, senhores, não insisti mais. Confesso que era um primeiro segredo entre nós, mas dei-lhe um cheque e não pensei no assunto. Pode ser que isso nada tenha a ver com os fatos que contarei a seguir, mas... -Àsvezes,Sr.Munro, umdetalhesimplesrevelamaismistérios do que se supõe -completou Holmes. -Continue. -Eu lhe disse como nossa fazendinha era afastada da cidade e mencionei um chalé desocupado. Na verdade, ele agora não está mais vazio. Na Última segunda-feira, passei pelo chalé durante meu passeio matinal e vi sinais de ocupação na casa. Movido pela curiosidade, olhei para as janelas superiores do chalé e vium rosto. Senhores, não posso explicar a terrível sensação que me bateu, o frio que senti gelar a espinha, ao ver aquela figura. Estava um tanto distante, não podia captar direito a feição, mas, Deus me perdoe!, Aquilo não parecia humano. Não saberia dizer se era de homem ou mulher. Era uma face lisa, amarelada, quase brilhante. Fiquei tão transtornado, que re¬solvi conhecer mais sobre os inquilinos do chalé. Mal me aproximei da casa, o rosto desapareceu da janela. Bati à porta e surgiu uma mulher magra, com jeito de em¬pregada. Tinha um forte sotaque do norte da Inglaterra. -O que quer? -disse a mulher, com cara enfezada. -Sou seu vizinho. Moro ali -disse, indicando minha casa. -Vejo que a senhora se mudou faz pouco tempo... Se precisar de alguma coisa, estamos às ordens. -Está bem, chamaremos quando precisarmos -disse a mulher, batendo a porta. Claro que fiquei aborrecido com a grosseria e tentei não pensar a respeito. Mas aquele rosto terrível não saía da mi¬nha cabeça. À noite, antes de deitar, mencionei para Effie que o chalé estava ocupado. Como ela é um pouco impres¬sionável, nada contei sobre o rosto pavoroso ou o fato de ter conversado com a empregada mal-educada. O Sr. Munro fez mais uma longa pausa. Perdeu-se ainda em seus pensamentos, mas nem eu nem Holmes nada disse¬mos que o impedisse de continuar a confidência: -Tenho um sono de pedra, senhores. Minha família costumava brincar, dizendo que nem uma bomba me acor¬daria. Pois bem: não sei que estranho acaso me despertou naquela noite. Meio dormindo, meio acordado, percebi que minha esposa tinha se levantado da cama e estava se trocando. Pensei em dizer alguma coisa, mas vi a expressão de seu rosto, iluminado por uma vela. E o que vi, senhores, me abalou mais que tudo! Effie estava pálida, com uma expres¬são de criminosa, enquanto ajeitava a capa e reparava se eu ainda dormia. Ouvi quando ela saiu, desceu as escadas e destrancou a porta da frente. Confirmei o horário no relógio de cabecei¬ra: eram três horas da manhã. Que diabo minha mulher ia fazeràquela hora da madrugada? Fiquei sentado na cama, aturdido, tentando organizar meus pensamentos. Meia hora depois, ouvi os passos dela na escada. -Onde você foi, Effie? -perguntei, quando ela entrou. Ela levou um susto violento e deu uma espécie de grito abafado, e isso me desesperou ainda mais: aquele grito de¬nunciava a sua culpa. -Jack! Você, acordado! Eu pensava que nada pudesse acordá-lo. -Onde esteve?-perguntei com mais rigor. -Não me espanta que você tenha acordado -ela se desfez da capa,.mas reparei nos dedos trêmulos e na voz que tentava ser jovial.-Mas me ocorreu hoje algo que jamais aconteceu na vida... Acordei de tal maneira suada e irritada, imaginei que nunca voltaria a dormir! Precisei sair para tomar um pouco de ar.Só isso,Jack.Um passeioàluzdoluar. Durante o tempo em que narrou essa história sem pé nem cabeça, Effie não me olhou no rosto. Claro que percebi que mentia. O que ela estaria escondendo de mim? Effie meteu-se na cama e fingiu dormir. Mas creio que foi uma noite insone para ambos. Eu me revirava entre os lençóis, tentando explicar seu comportamento, tomado das mais fantásticas teorias. Na manhã seguinte nosso café da manhã foi dos mais tensosdesdequenoscasamos.Mal trocamosalgumaspalavrase eu saí. Deveria ir à cidade cuidar de negócios, mas estava tão transtornado, que fui apenas a uma vila vizinha conferir uns documentos. Por volta de uma da tarde estava na estrada de casa,passando diante do chalé recém. E que surpresa, Sr. Holmes, ao ver minha esposa saindo dali! Fiquei mudo de espanto. Mas minha emoção não era nada, se comparada ao terror que vi no rosto de Effie, quando me encontrou. Tentou voltar ao chalé, desistiu. -Oh! Jack! -disse ela. -Resolvi fazer uma visitinha a nossos vizinhos, para ver se precisavam de alguma coisa. Por que me olha assim? Está zangado comigo? -Estou -eu respondi. -É esse o lugar onde esteve ontem à noite? -O que você quer dizer? -Você veio aqui, estou certo disso. Que pessoas são essas que você visita às três horas da madrugada? -Nunca estive aqui antes. -Effie, como tem coragem de negar o que é uma clara mentira? -gritei. -Até sua voz muda, quando você mente. 'I.1mos entrar agora mesmo e resolver esse mistério. -Não, Jack!-Effie implorou, os olhos cheios de lágri¬mas. -Imploro que não faça isso, Jack. Prometo que não voltarei mais aqui. Juro que um dia lhe direi tudo. Confie em mim só desta vez, nunca terá motivos para se arrepen¬der. Se você forçar a entrada nesse chalé, estará tudo acaba¬do entre nós. Effie pegou em meu braço e aceitei acompanhá-la, mas ia arrasado, sem saber no que pensar. E ao olhar para trás, vi na janela do chalé aquele mesmo rosto medonho, brilhante, fantasmagórico. O Sr. Munro tinha uma expressão terrível no olhar, como se a visão ainda o perturbasse. Holmes ofereceu ao nosso visitante uma bebida e um charuto, mas o desamparado narrador preferiu prosseguir no seu relato, falando com mais pressa e nervosismo. -Sr. Holmes, fiquei os dois dias seguintes em casa e Effie não traiu sua promessa. No terceiro dia, porém, tive a certeza de que ela retomou ao chalé. Meus negócios me levaram à cidade naquele dia, mas voltei no trem das 2h40, em vez do trem das 3h36, como de costume. Ao entrar em casa, a criada correu para o hall, assustada. -Onde está a patroa? -perguntei. -Acho que foi dar um passeio -respondeu ela. Meu coração encheu-se de suspeitas. Subi as escadas, para confirmar se Effie estava em casa e pela janela pude ver a criada correndo pelo campo em direção ao chalé. Imaginei que minha esposa pedira para a empregada avisá-la de meu retorno. Jurei 'descobrir o segredo e saí disparado até o chalé. Nem bati à porta, entrei direto na casa. Não havia ninguém. Encontrei um gato dormindo no sofá, móveis simples pelas salas. Subi ao quarto onde tinha visto a criatura de rosto amarelo e parei diante da cômoda, sem fôlego: sobre ela, estava uma foto de Effie, que eu mandara ampliar há uns três meses. Por quanto tempo, senhores, fiquei ali naquele quarto vazio, perdido em ideias sombrias, olhando o retrato de mi¬nha esposa? Por longos minutos... E quando retomei à casa, Effie me esperava no hall. -Jack, disse ela, sei que prometi não voltar ao chalé e quebrei a promessa. Mas se você soubesse das circunstân¬cias, sem dúvida alguma me perdoaria. -Então me conte -eu falei. -Não posso, Jack!-ela gritou. -Enquanto você não me disser quem mora nesse chalé e por que a sua foto está lá, não pode existir a menor confiança entre nós -eu lhe disse, saindo de casa. Isso aconteceu ontem, Sr. Holmes, e não a vi mais, nem sei o que pode ter acontecido. Dormi numa estalagem e hoje de manhã tive a ideia de procurá-lo, para me ajudar a desvendar o mistério. É por isso que estou aqui, senhores, e me coloco em suas mãos. Holmes eeuouvimosaextraordinárianarrativadohomem, feita aos trancos, revelando sua profunda emoção. Silêncio pesadonasaladaRuaBaker.Meu amigofixavaoolharagudono rosto do Sr. Munro. Afinal, o detetive perguntou: -O senhor tem certeza de que o rosto na janela era dehomem? -Não, Sr. Holmes. Sempre o vi a distância e ele me pareceu irreal, com feição indefinida. Nova pergunta: -Há quanto tempo a sua senhora lhe pediu as 100 li¬bras? -Cerca de dois meses. -Já viu o retrato de seu primeiro marido? -Não. Houve um grande incêndio em Atlanta depois de sua morte e os papéis dele foram todos destruídos. -No entanto, o senhor viu a certidão de óbito. -Sim. -Já encontrou alguém que conhecesse sua esposa na América? -Nunca. -Ela algum dia falou que gostaria de voltar para Atlanta?Recebe cartas de lá? -Também não,Sr.Holmes. Nunca revelou saudades da terra onde morreu o marido nem recebe cartas, que eu saiba. -Pois bem -concluiu meu amigo, erguendo-se como se encerrasse o caso por aquele momento. -Preciso pensar um pouco mais: Se os inquilinos retomarem ao chalé, não force sua entrada na casa. Mande-me imediatamente um telegra¬ma, pegarei o trem para Norbury e creio que resolveremos tudo. Dizendo isso, Holmes despediu-se do desventurado Sr. Grant Munro. -O que você acha,Watson? -perguntou meu amigo, quando ficamos a sós. -Acho que tudo isso cheira mal -falei com franqueza. -Sim. Acredito que há uma chantagem nessa história. -E quem seria o chantagista? -perguntei. -Deve ser esse indivíduo que mora no chalé e tem a foto da esposa de Munro. -Tem alguma hipótese, Holmes? -Sim. Não ficaria surpreso se o primeiro marido estivesse no chalé. -Por que pensa assim? Então tive o prazer de acompanhar a atitude tão arrogante como atraente na natureza dedutiva de meu amigo Sherlock: ele vagarosamente acendeu o cachimbo e, enquanto a fumaça fazia volteios no ar, foi desfilando sua coleção de hipóteses: -Elementar, meu caro Watson: essa mulher se casou na América. Seu esposo deve ter contraído uma doença terrível, ficouleprosoou imbecil,porexemplo.Elafugiuevoltoupara a Inglaterra, mudou de nome e começou nova vida. Casada há três anos, sentia-se segura. Afinal, havia mostrado ao atual marido na certidão de óbito de algum infeliz qualquer e levava uma vida tranquila. Repentinamente, foi descoberta pelo primeiro marido, ou, podemos supor, por uma mulher imoral, queseligouaoinválidoetramou umachantagem.Escreveram à esposaameaçandodenunciá-la.Paraacalmaros ânimos,a Sra. Munro enviouas100librasaoschantagistas.Maselesacharam pouco e quiseram dar o golpe mais de perto. Quando o Sr. Munro falouàesposaqueochaléestavaocupado,elaimaginou que ali estavamseus perseguidores. Foi ao chalé de madrugada, para convencê-los a deixá-la em paz. Não teve êxito e tentou novamente no dia seguinte, sendo flagrada pelo marido. Prometeu ao Sr. Munro não re¬tomar ao local, mas dois dias depois descumpriu a promessa, levando talvez a fotografia que eles exigiam. Informada pela criada do retorno do Sr. Munro, a esposa se desfez do ex-marido e sua cúmplice por uma porta dos fundos e isso explica o t1to de o chalé estar desabitado. Mas se não me engano, nosso cliente descobrirá que não ficou assim por muito tempo. O que acha da minha hipótese? -São apenas hipóteses, Sherlock -eu respondi, não de todo convencido. -Pelo menos explica todos os fatos. Bem, vamos almoçar. Nada podemos fazer até nosso amigo nos avisar que os inquilinos voltaram ao chalé. Não esperamosmuitotempo.Àhoradochárecebemosum telegrama de Munro: "O rosto foi visto outra vez à janela.Vou esperá-losno tremdasseteenadafareiantesdechegarem". O Sr. Munro nos esperava na estação. Reparei que seu rosto estava pálido e ele parecia muito agitado. -Ainda está lá, Sr. Holmes. Vi luzes no chalé enquanto vinha buscá-los. Quero esclarecer tudo isso hoje mesmo. -Tem certeza disso, amigo? -falou Holmes, com uma expressão de tristeza no olhar. -Mesmo com o aviso de sua esposa, de que não deveria forçar uma resposta? -Sim. Estou resolvido. -O senhor está no seu direito. Qualquer verdade é me¬lhor do que a dúvida eterna. Mas temo que o senhor acabe topando com um terrível engano... Mas se é a verdade o que deseja, vamos a ela! A noite estava muito escura e começou a chover.Seguimos em silêncio pela estrada. Além, avistavam-se as luzes da pro¬priedade dos Munro. E logo a seguir vimos o chalé. Uma lanterna estava acesa à frente do sobrado. A por¬ta não estava totalmente fechada e uma janela no andar de cima estava bastante iluminada. -Lá está a criatura! -gritou o Sr. Munro, apontando para a janela. -Sigam-me, senhores, e sejam minhas teste¬munhas. Mal nos aproximamos da porta, uma mulher saiu da sombra e parou no hall de entrada. Ela estendeu os braços para a frente, num gesto de piedade. -Pelo amor de Deus, Jack, não entre! Eu pressentia que você viria aqui nesta noite. Pense melhor, querido! Confie em mim e não se arrependerá. -Já confiei muito, Effie -gritou ele. -Vamos acabar com essa farsa! Sigam-me! A empregada surgiu na sala, tentando barrar o caminho, mas foi empurrada pelo alucinado Sr. Munro. Logo, todos subíamos apressados a escada e invadimos um quarto bem arrumado. No canto, inclinado sobre uma carteira, estava um vulto que parecia de uma menina. Ela virou o rosto quando entramos, e não segurei um grito de surpresa e horror. O rosto que se voltou para nós era de uma cor lívida e estranha, os traços vazios de expressão. Um instante depois, o mistério estava explicado. Holmes, com uma risada, passou a mão atrás da orelha da criança e retirou uma máscara de seu ros¬to, apresentando-nos uma menina preta como carvão, com dentes brancos a cintilar, divertida com nosso espanto. Meu alívio diante daquilo que parecia uma brincadeira exótica me fez sorrir. Munro, porém, ficou imóvel, apertan¬do a garganta com a mão. -Meu Deus! -gritou ele. -O que significa isso? -Eu lhe direi o que significa-disse a senhora, entran¬do no quarto com uma determinação orgulhosa que não possuía à porta do chalé. -Você me forçou a dizer a verda¬de contra minha decisão. Agora precisamos fazer o melhor possível. Esta é minha filha. -Sua filha?! -exclamou o marido. -Sim. Meu marido morreu em Atlanta, mas minha filha sobreviveu. A mulher tirou do peito um medalhão e o abriu. -Você nunca o viu aberto, Jack. Aqui tem a foto de meu primeiro marido. Vimos o retrato de um homem de aparência elegante e inteligente, com inconfundíveis traços afro-americanos. -Este é John Hebron -disse ela. -Homem de sua nobreza jamais existiu sobre a Terra. Nunca me arrependi de casar com ele. Só que como acontece às vezes em tais casa-mentos, Lucy saiu mais negra que o pai. Porém, negra ou branca, é minha filhinha querida, o meu tesouro. Ao ouvir essas doces palavras,a menininha correu e se aninhou no colo da mãe. Beijando os cabelosencarapinhadosda filha, Effie continuou: -Deixei Lucy na América porque sua saúde era muito fraca e uma mudança poderia ser fatal. Ficou aos cuida¬dos de uma fiel empregada escocesa, esta que mora aqui no chalé agora. Nunca pensei em repudiar minha filha, Jack. Mas quando o destino o colocou no meu caminho e perce¬bi quanto o amava, tive medo de lhe contar sobre a minha filha. Deus me perdoe, mas tive medo de perder você e me faltou coragem para lhe contar tudo. Tive de escolher entre você e ela e, na minha fraqueza, abandonei minha filhinha. Durante três anos escondi Lucy de você, Jack. Mesmo a distância, porém, acompanhei a vida de minha filha, porque a criada me enviava cartas para uma caixa postal. Oh, Jack! As saudades de minha filha foram-se tornando insuportá¬veis. Apesar de conhecer o perigo, acreditei que poderia tra¬zer Lucy para a Inglaterra por algumas semanas. Sua saúde estava boa e ela suportaria a viagem. Por isso pedi as 100 libras, Jack, para enviá-las à governanta. Na carta, também expliquei sobre este chalé. Se elas aparecessem como vizi¬nhas, poderia encontrar minha filha sem que você descon¬fiasse. Fui tão precavida que inventei a ideia da máscara, para evitar que algum mexeriqueiro visse o rosto negro de Lucy e comentasse por aí. Mas, para minha infelicidade, foi você quem a descobriu primeiro. Effie parou um instante de falar e seus olhos encheram¬-se de lágrimas. Apertou com mais força a cabeça da filha em seu colo. -Naquela noite em que você comentou sobre o chalé ocupado, meu coração de mãe falou mais alto. Não aguentei esperar atéodiaseguinte parareverminha menina e,sabendo de seu sono profundo, arrisquei-me a visitá-la. Infelizmente, você acordou e desconfiou do meu segredo. Não tive cora¬gem de lhe dizer a verdade e, quando você invadiu o chalé, mal tive tempo de tirar Lucy e a empregada por uma saída nos fundos. E agora, nesta noite, você sabe de tudo e pergunto o que vai ser de nós, de mim e de minha filha. A mulher colocou a menina diante de todos. Ambas esperaram, sem modificar a expressão altiva, pela resposta do Sr. Munro. Passaram-se dois longos minutos antes de Grant Munro quebrar o silêncio. Ah! Mas a sua resposta foi uma daque¬las de que jamais esquecerei! O homem pegou a menininha no colo, beijou-a e, ainda carregando-a no colo, estendeu a mão à esposa, dirigindo-se para a porta. -Podemos conversar sobre isso com mais conforto em nosso lar -disse ele. -Não sou um homem muito bom, Effie, mas penso que sou melhor do que você imaginava que eu fosse. Holmes e eu os acompanhamos até a porta. Quando a família seguiu pela estrada, meu amigo me puxou pelo braço, murmurando: -Creio que somos mais úteis em Londres do que aqui em Norbury. Sherlock não disse uma única palavra sobre o caso, du¬rante a viagem de trem até a capital. Só bem tarde da noite, já na sala da Rua Baker, Holmes se atreveu a fazer uma confidência: -Watson, se alguma vez você me vir muito confiante em minhas hipóteses, ou se eu mostrar menos atenção a um caso do que ele merece, tenha a bondade de falar em meus ouvidos a palavra "Norbury". Ficarei infinitamente agradecido. Sherlock Holmes foi para seu quarto e confesso minha alegria em saber que meu amigo havia errado tão flagrante-mente em suas deduções. A realidade nos apontou um desfecho muito mais como¬vente e expressivo do que a hipótese da chantagem vulgar. O conto TheYrl/owFacefoi publicado na revista The Stratld Magazitle, em fevereiro de 1893,e no livro Thr Mellloirs oj Sherlo(kHolllles, no ano seguinte.

O diamante azul ( para o 7° ano )

O diamante azul DOIS DIAS depois do Natal, fui visitar meu amigo Sherlock Holmes. Encontrei-o sentado no sofá, de rou¬pão, cachimbo apoiado no cinzeiro e, ao alcance da mão, um punhado de jornais. A seu lado estava um chapéu de feltro, bastante velho e gasto, com alguns rasgões. No assento da cadeira, vi uma lente de aumento e uma pinça, indicando que o chapéu havia sido suspenso e examinado. -Espero não estar atrapalhando... -Caro Watson, gosto de um amigo como você por perto, para discutir as investigações -apontou o chapéu. -O que-acha dele? -Parece um objeto sem interesse -eu brinquei -, mas aposto que você me provará que é a pista fabulosa para desvendar um crime extraordinário. -Não, nada de crimes...-disse Sherlock,rindo.-Apenas um daqueles engraçados acontecimentos que surgem quando há 4 milhões de seres humanos morando numa cidade cosmopolita como Londres...Você se lembra do comissário Petersen, que tantas vezes nos visitou quando você morava aqui? -Claro! -respondi. -Este troféu pertence a ele. -O chapéu é dele? -espantei-me. -Não, não. Ele o encontrou. Não se sabe quem é o dono. Deixe-me contar como veioparar aqui. Acendi um charuto e me servi de uma xícara de café forte, pronto para ouvir as explicações de Sherlock. -Este chapéu me veio às mãos no dia de Natal, junto com um belo ganso gordo, que a estas horas, sem dúvida, já foi comido pela família de Petersen... Holmes deu um sorriso e continuou: -Às 4 horas da manhã do dia de Natal, mais ou menos, Petersen estava encerrando sua ronda e passava pela Tottenham Court Road2, voltando para casa. À sua frente caminhava um homem, cambaleando sob as fracas luzes de gás, carregando um ganso às costas. Quando chegou à esquina, um bando de vagabundo so atacou, para roubar o ganso.Um deles derrubou o chapéu do homem e este, num gesto de defesa, usou uma bengala,mas acabou quebrando a vitrine de uma loja. Petersen apitou e foi defendê-lo,mas como ele havia quebrado a vitrine, assustou-se com o policial e também correu, assim como os assaltantes. Conclusão: o policial se viu na rua, a essas horas da madrugada, com um ganso e um velho chapéu nas mãos. Como o ganso eragordoecaro,ePetersenéumpolicialhonesto, pensou em devolvê-loao dono. -E quem seria ele?-perguntei. -Petersen não sabe. Por isso trouxe o caso até mim. Havia um cartão amarrado na perna do ganso, "Para a senhora Henry Baker", e no chapéu estão as iniciais H.E. Ora, como há milhares de Bakers na nossa cidade e provavelmente outro tanto de Henrys, nosso amigo Petersen não conse¬guiria descobrir o homem a tempo de lhe devolver o ganso para o almoço de Natal. -Eo que você sugeriu, Holmes? -Que comesse o ganso antes que estragasse. E me dei¬xasse resolver o mistério. O que acha? -Acho que você supôs que o dono do ganso colocaria um anúncio no jornal. Não é por isso que reuniu tantos jornais a seu redor? -Excelente, meu caro Watson! Vejo que os casos que re¬solvemos ainda lhe são úteis. Mas não encontrei anúncio algum. -E como espera resolver isso, então? -espantei-me. -Com o chapéu. -Com esse chapéu velho e amassado? -Precisamente. É verdade que o tempo me ensinou a nunca menosprezar os dons dedutivos de meu amigo, mas confesso que me rendi diante de tão dura tarefa. O que um velho chapéu poderia revelar de seu dono, a não ser as iniciais H.B. e o seu estado de miséria? Sherlock riu diante da minha óbvia expressão de desalento. - Pense,Watson. O que podemos colher desse velho chapéuamarrotado? Vamos, amigo! Você conhece meus métodos.Pegue a lente e examine o chapéu. Como é o homemque o usava? Meio contrariado, peguei a lente e tentei acompanhar obrilhantismo dedutivo de meu amigo. Era um chapéu preto,comum, redondo e muito gasto. O forro era de seda vermelha,desbotado. Não havia nome de fabricante, apenasas iniciais H.B. Na aba havia um furo, do elástico que osegurava, mas do elástico, nem sinal. Estava coberto de pó,com alguns buracos e pequenas manchas. Nos lugares desbotadosaplicaram uma tinta preta. - Não vejo nada - respondi, devolvendo o chapéu. - Watson, não me decepcione! Pode-se ver tudo nessechapéu. - Então me diga, você, o que vê nele. Holmes segurou-o com um respeito dado a objetos preciosose falou daquele jeito pausado, com que sempre conduzsuas investigações: - Creio que o homem é mais intelectual do que operário. Acha-se atualmente em péssimas condições de vida e issovem acontecendo de uns três anos para cá, pois antes viviabem. Também já foi um homem prevenido, mas isso mudou,o que me leva a crer na perda de seus bens. Talvez tenhasido levado a isso pela bebida, por isso sua mulher deixoude cuidar dele e talvez não o ame mais. - Meu caro Holmes! -Ele é um homem de vida sedentária -continuou Sherlock,nem me dando ouvidos -, tem cabelos grisalhos, que cortou faz pouco tempo, e usa gel nos cabelos. Estes são os fatos que se podem deduzir do chapéu. E é bem provávelquenão tenha gás em sua casa... -Holmes, você está brincando comigo... - Jamaisfaria isso, meu caro Watson. Será possível que depois de eu ter assinalado todos esses fatos, você não consegue descobrir mais nada? - Devoconfessarque não consigoseguirseuraciocínio...Por exemplo:como você percebeu que o homem era intelectual? Holmes respondeu colocando o chapéu na própria cabeça. Ele lhe desceu até o nariz. - Não dizem que um homem de cabeça grande é mais inteligente? - Ah!-exclamei.-E quanto ao fato de ele ser rico e ter empobrecido? - Repare na aba. Esse modelo esteve na moda há três anos e é chapéu da melhor qualidade. Tem um bom forro e uma fita de seda. Se esse homem pôde comprar um chapéu desses há três anos, é porque tinha dinheiro para fazê-lo. E se não comprou outro, certamente é porque não teve mais recursos para isso. Holmes sempre me vencia. Suspirei fundo e continuei com minhas perguntas: -Como explica o fato de não ser mais previdente? Sherlock deu risada. -Veja a previdência -disse, colocando o dedo sobre o furo para o elástico. -Ninguém compra um chapéu desse tipo com um elástico costurado na borda. Isso só é colo¬cado se o freguês pedir, numa prevenção contra o vento. O elástico arrebentou e ele não o costurou mais, o que é sinal de descaso. Mas ainda tem orgulho suficiente para dis¬farçar as marcas da pobreza com tinta. Havia uma certa lógica em tudo que Holmes me apre¬sentava. Ele continuou: -Bem, quanto ao fato de o homem ser de meia-idade, usar gel e ter cabelo grisalho cortado há pouco, isso pode ser visto pelo exame do forro. Há vestígios de fios, óleo e cabelos curtos, grisalhos. -E a esposa dele?Você disse que ela não o ama mais. -Este chapéu não é escovado há muitas semanas. Meu caro Watson, quando sua mulher deixá-lo sair de casa com um chapéu nesse estado, terei certeza de que ela nem olha mais para sua cara! -Holmes, o homem pode ser um solteirão! Ou ser muito ocupado, sem tempo de cuidar de si!-exclamei,furioso com o orgulho com que meu amigo expunha suas opiniões. -Nada disso. Ele ia levando para casa um ganso caro e gordo como presente para sua mulher. Não se esqueça do cartão na perna da ave.Não se faz isso com alguém a quem não se pretenda agradar. -Ah, Holmes! -exclamei, nervoso. -Você tem resposta para tudo. E por que diz que não há gás na casa dele? -Veja:há alguns pingos de vela aqui na aba. Esse homem está acostumado a subir a escada com o chapéu numa mão e a vela na outra. Ao que eu saiba, gotas de cera não pingam de lampiões a gás. Agora acredita no que falei? Acabei rindo. Segurei no braço de meu amigo e considerei aquilo como um divertido conto de Natal. -Ah, caro Holmes, tudo isso é muito curioso, mas já que me garante que não houve crime e que o único assassinado foi um ganso, quer me explicar por que está gastando tanto tempo e energia para decifrar o enigma desse chapéu perdido? Sherlock Holmes ia responder, quando a porta foi aberta com violência e o comissário Petersen entrou no recinto, nervoso demais, sem sequer nos cumprimentar. -O ganso, senhor Holmes, o ganso... -Hein? O ganso? O que aconteceu com ele?Ressuscitou e voou pela janela? -brincou Sherlock, gozando da expres¬são apalermada do policial. -Olhe aqui, senhor Holmes, o que minha mulher encontrou no papo da ave-e nos estendeu uma grande pedra azul. -Petersen, acredite, você tem aqui algo de grande valor! Por acaso sabe o que é isso? -Um diamante, senhor Holmes! Uma pedra preciosa. Ela corta o vidro como se fosse banha. -Não, caro Petersen. Não é umapedra preciosa. É a pedra preciosa. -Não me diga, Holmes! -explodi, furioso. -Não me diga que é a pedra da Condessa de Morcar! -Creio que sim. Depois de seu roubo, foi o que mais se leu no TheTimes.Uma pedra única, e a recompensa de mil libras oferecida pelo seu retorno não corresponde à vigési¬ma parte de seu valor -concluiu Holmes. -Mil libras! Deus do céu!-gritou o comissário, nervoso demais para segurar a pedra por mais tempo e derrubando¬-a no tapete da sala. - Essa é a recompensa oferecida - disse Holmes, mantendoa tranquilidade e recolhendo a joia. - Mas, por valorsentimental, sua dona seria capaz de oferecer metade da fortunapara recuperá-Ia. - Ao que me lembro, a pedra desapareceu no HotelCosmopolitan - falei. Holmes completou a informação: - Isso mesmo! No dia 22 de dezembro, há exatamentecinco dias. John Horner, um encanador, foi acusado de tirara pedra de um porta-joias no quarto da condessa, e as provascontra ele são tão fortes, que o homem irá a julgamentonas próximas semanas. Veja, tenho aqui um recorte de jornalpara comprovar o que digo. E Holmes nos estendeu um artigo: Roubo de jóias no Hotel Cosmopolitan John Horner, 26 anos, encanador, foi acusadode, no dia 22 corrente, ter roubado do porta-joiasda Condessa de Morcar uma valiosa gema conhecidacomo diamante azul. James Ryder, copeiro-mordo hotel, afirma ter levado o Sr. Horner ao quartoda condessa a pedido da sua dama de companhia,Catarina Cusack, para que ele soldasse uma gradeda lareira. O camareiro permaneceu no local algumtempo, mas, sendo chamado, deixou o soldadorsozinho. Ao voltar, viu que Horner já havia saído,mas constatou que o cofre se achava aberto, o queo espantou. Ryder deu o alarme e Horner foi preso,mas a pedra não foi encontrada. O encanador protestou inocência, mas como já apresenta antecedentes criminais, tudo indica a sua culpa provável. Horner deverá ir a julgamento. Apesar disso, o mais terrível é que até o momen¬to não há o menor sinal do diamante, peça muito querida de Sua Alteza, que prometeu régia recom¬pensa a quem indicar o paradeiro da joia. -Hum, bobagens da polícia! -disse Holmes, jogando o jornalparaolado. -Nossaprioridadeéestabelecerasequência de fatos desde que o porta-joias foi aberto até o fim, que é o ganso perdido em Tottenham Court Road e comido pela família de nosso amigo Petersen. O que ocorreu entre cada acontecimento? -ele perguntou e ele mesmo respondeu, abrindo a mão e exibindo a joia. -Aqui está a pedra. A pedra veio do ganso. E como o ganso chegou a nossas mãos? Através de Petersen e do homem idoso com um chapéu surrado. Por isso, caro amigo Watson, colocarei nos jornais um anúncio. Holmes redigiu rapidamente uma nota e a leu: Ganso encontrado na Tottenham Court Road junto com um chapéu de feltro. O Sr. Henry Baker pode reaver seus pertences, dirigindo-se, hoje, às 18h30, à Rua Baker, 221B. -O que acha, Watson? -perguntou-me Holmes. -Se o homem não olhar os jornais, algum conhecido de Henry Baker pode avisá-lo...Ah!Petersen,faça-meum favor.Coloque esse anúncio em todos os jornais populares. E, na volta, compre-me um ganso parecido com aquele que sua família comeu. O policialrecebeuo dinheiro de Hohnes e apontou a pedra. -O que vai fazer com ela, senhor? -Deixe-a comigo -respondeu Holmes. -Vou descobrir como essa joia foi parar no papo de um ganso. Depois que Petersen saiu, decidi partir também. Qualquer resultado só viria ao final da tarde. Prometi voltar à noitinha, para conferir se o mistério do ganso e do roubo do diamante azul teria solução. Quando voltei, encontrei um homem na sala de Holmes. -Watson, quero lhe apresentar o Sr. Henry Baker. Ele acabou de chegar e esperávamos por você. Cumprimentei-o e reparei que meu amigo havia acertado em muitas características de Henry Baker: era alto, de fa¬ces vermelhas, com a roupa abotoada de cima a baixo, mas com mangas puídas na camisa. Usava um boné escocês. Suas mãos tremiam um pouco, o que me lembrou o comentário de Holmes a respeito da bebida. Falava baixo e escolhia as palavras com correção, mostrando ser um homem letrado. -Então o senhor perdeu o seu ganso e o chapéu -disse Holmes. -É o que acreditava, senhor. Pensei que os ladrões a essa altura já tivessem devorado a ave. -É o que nós fizemos, infelizmente. -Ah! Os senhores comeram o ganso!...-disse o homem, decepcionado. -O ganso acabaria apodrecendo e isso seria um desper¬dício... mas tenho aqui outra ave, de igual peso e, espero, igual sabor. -Holmes indicou um pacote de onde sobres¬saíam as patas do ganso, com o chapéu gasto ao lado. Reparei que os olhos do homem se iluminaram. Ele não se importava em trocar uma ave pela outra: o que queria mesmo era levar comida para casa. Holmes olhou para o homem e perguntou: -Espero que não se importe em me dizer onde o senhor comprou o ganso, Sr. Baker. Era de ótima qualidade. -No Clube do Ganso. Falamos quase ao mesmo tempo: -Clube do Ganso??? -FoiodonodaTabernaAlfaquecriouesseclube.Cadasócio entracomalgunscentavosporsemanaelevaogansono Natal -explicouo homem, retirando-sedepois de agradecer muito. -Então o Sr. Baker é inocente -disse Holmes, fechando a porta atrás do visitante. -Está com fome, Watson? Que tal um jantarzinho na Taberna Alfa? Claro que concordei. A taberna era um local pequeno, mas agradável. Holmes dirigiu-se ao proprietário com a maneira jovial que usa quan¬do quer cativar as pessoas: -Traga-nos cerveja, meu bom homem. Espero que sua bebida seja tão boa quanto a qualidade dos seus gansos! -Meus gansos? -o homem se espantou. -Sim, acabei de conversar com o Sr. Henry Baker, que é membro do Clube do Ganso. -Ah!, agora entendi. Mas aqueles não são nossos. Foram encomendados de um vendedor na feira de Covent Gardens. Um homem chamado Breckinridge. Bebemos a cerveja e saímos. -Vamos passear pela feira, Watson? Estou com bons pressentimentos. Acho que até o fim da noite resolveremos o mistério do ganso que come diamantes. Não foi difícil localizar a banca com o nome Breckinridge na fachada. O proprietário era um homem grosseiro, de nariz fino e barba pontuda. Meu amigo examinou a bancada do açougue antes de perguntar: -Pelo que vejo, o senhor vendeu todos seus gansos. -Se quer gansos, pode comprá-los naquela banca adiante -respondeu o homem, com maus modos. -Mas queria comprá-los do senhor, que me foi tão bem recomendado pelo dono da Taberna Alfa.Pode dizer-nos de quem comprou aquelas aves? Diante da pergunta inocente, o barbudo teve um inusitado ataque de raiva. -Arre, que não digo! Já estou farto daquelas duas dúzias de gansos do Alfa!É toda hora que me aparece alguém querendo saber onde comprei os gansos, para quem vendi os gansos!... Ora, faça-me o favor, estou farto disso! Ponha-se daqui para fora que nada direi. -Está bem, está certo, vou embora! -disse Holmes, espertamente me piscando o olho. -Eu estava justamente apostando com meu amigo que aquelas aves foram cria¬das no campo. Aposto uma libra, com o senhor, que estou certo. -Aposta?! -exclamou o homem. -Uma libra, sobre os gansos? -O que disse: aposto uma libra que aqueles gansos vieram do campo. -Aposta fechada! -e o enfezado Sr. Breckinridge bateu palmas, gritando para os fundos da barraca: -Bill, traga-me os livros. Surgiu um rapazinho magro, carregando dois livros de registros. Satisfeito, o comerciante procurou nas páginas a informação que queríamos: -Está vendo, senhor? Nessa lista anoto de quem eu compro a mercadoria. Nessa outra, para quem vendo. Faça o favor de ler esse nome escrito em vermelho. Estendeu o volume diante dos olhos de meu amigo,que leu: -Senhora Oakshott, residente à estrada Brixton II7. Em 22 de dezembro, 24 gansos comprados a 7 xelins?cada um. -Foi desse lugar que vieram os gansos. Como pode ver, senhor, foram aves criadas aqui mesmo na cidade -e o ho¬mem gargalhou, feliz por ganhar a aposta. Holmes fingiu uma expressão de contrariedade e lhe deu a moeda de uma libra. Mal nos vimos na rua, meu amigo sorriu, pegando-me no braço: -Watson, um homem com aquela barba nunca se deixa convencer do que não quer. Poderia oferecer 100 libras pela informação, que ele nada diria. Mas a ideia de tapear um cavalheiro numa aposta era forte demais... Acho que teremos de visitar a criadora dos gansos, a senhora Oakshott... Holmes não terminou a frase, porque nossa atenção foi atraída por um tumulto, na banca do Sr. Breckinridge. O barbudo tinha uma vassoura nas mãos e espantava um homenzinho de cara fina como um rato, que se encolhia diante da possível surra. O comerciante gritava: -Fora daqui, você e seus gansos! O diabo os leve a todos, não me venha com essa conversa de saber para quemos vendi. -Mas um deles era meu... -choramingou o homem de cara de rato. -Vá tirar satisfações com a Sra. Oakshott, então -disse o furioso comerciante, espantando o homenzinho, que cor¬reu pela rua. -Ah, quem sabe esse fulano nos poupa a viagem até a granja. Vamos, Watson, não o perca de vista! Depressa o seguimos. Ele logo parou e quando Holmes tocou seu ombro o homem encolheu-se. -Queméosenhor?Oquequer?-estavapálidoetremia. -Desculpe-me -disse Holmes suavemente. -Mas não pude deixar de ouvir a sua conversa com o comerciante e talvez possa ajudá-lo a respeito do ganso... -Ajudar-me? Oh, ninguém pode me ajudar, senhor! ¬gritou o mísero, em desespero. -Eu posso -a voz de meu amigo veio firme e autoritá¬ria. -Sou Sherlock Holmes e é meu dever saber o que os outros não sabem. -Era de alguém como o senhor que eu precisava! -o rosto do homem iluminou-se ao reconhecer a fama de meu amigo detetive. -Os céus o mandaram. -Diga-me seu nome, senhor. E não tente me enganar. -James Ryder. -Como pensei. O copeiro-mor do Hotel Cosmopolitan. Acompanhe-nos, Sr. Ryder. Vamos conversar num lugar maisconfortável. Holmes fez sinal para um coche de aluguel e logo estáva¬mos instalados na sala quente da rua Baker. Sherlock ofereceu um chá para o homenzinho, que o bebeu avidamente,'usando a xícara para aquecer as mãos. Esperamos que ele se recuperasse.Depois Holmes começou: -Se está interessado no ganso, Sr. Ryder, fique sabendo que a ave veio parar aqui. -Aqui? Mas como... -Isso não interessa. O que interessa é que era uma ave magnífica, tão extraordinária, que depois de morta pôs um ovo. Um ovo brilhante! Holmes abriu uma gaveta e tirou o diamante de lá. Os olhos de Ryder fixaram-se na pedra. Ele ficou tão pálido, que temi que desmaiasse. -O jogo acabou, Ryder. Acalme-se. Vamos, Watson, co¬loque umas gotas de conhaque no chá desse homem. Ah, o senhor é mesmo um covarde! Fiz o que Holmes pediu. O copeiro-mor jogou-se numa cadeira e bebeu uns goles de chá. Aos poucos, as cores de seu rosto voltaram ao normal. -Sei de quase tudo, Sr. Ryder. Mas o pouco que me falta saber o senhor dirá... Como descobriu que essa pedra era da Condessa de Mocar? -Foi Catarina Cusack quem me falou dela -balbuciou o copeiro. -Ah! A dama de companhia da condessa... Você e ela resolveram roubar a joia. Sabiam que o encanador tinha pas¬sagem pela polícia e seria fácil culpá-lo. Bem, Ryder, parece que você tem potencial suficiente para ser um ladrão sem remorsos... a polícia ficará encantada em prendê-lo. O homem de cara de rato jogou-se ao chão, em prantos, as mãos trêmulas unidas em sinal de desespero. -Perdão, Sr. Holmes! Perdão! Nunca fui desonesto em toda minha vida... a prisão irá matar meus pais de desgosto. Por favor, Sr. Holmes, não me entregue à polícia! Era uma cena chocante. Holmes porém não se deixou comover. Com voz severa, ordenou: -Sente-se na cadeira, homem! Agora que caiu na ratoeira você se arrepende e pede perdão, mas não pensou nem um pouquinho no pobre Horner, que está preso injustamente por um crime que nem sequer sonhou. -Oh,Sr. Holmes, não queria isso! -lamentou-seo homem. -Posso explicar, posso contar tudo... -Faça isso e não diga nenhuma mentira. Ryder ainda tremia, mas juntou forças para detalhar sua história. -Catarina Cusack e eu organizamos o plano. Forjamos um defeito na lareira e eu dei um jeito para que o hotel escalasse Horner para f.1zer o conserto. Sabia que ele era fichado. Depois que ele foi embora, forcei o porta-joias e imediatamente dei o alarme. As suspeitas caíram sobre Horner. Depois que Horner foi preso, sabia que não poderia fi¬car com a pedra, porque dariam uma revista no hotel e nos meus aposentos. Fingi que cumpria uma ordem e saí do hotel levando o diamante. Oh!, senhores, que desespero me bateu! Imaginava que qualquer vulto era um policial e que todas as pessoas na rua me acusavam e sabiam do meu terrí¬vel gesto... nem sei como reuni forças para seguir até a casa da minha irmã. Ela é casada com um criador de aves e mora no subúrbio, então achei que era um local seguro... -Como imaginou o truque de esconder a pedra no gan¬so? -falou Holmes, com voz severa. -Não esconda nada, Ryder, senão irá terminar sua história na polícia! -Eu conto, senhor, eu conto... tive um amigo que cumpriu pena e ele me disse, certa vez, que os ladrões precisam logo se desfazer do roubo, para evitar o flagrante da polí¬cia... quando eu e Catarina bolamos o plano, Sr. Holmes, fui à casa dele. Sabia que ele me ajudaria a me desfazer da pedra. Mas naquela hora de agonia, em que via um policial em cada esquina, temi que nunca conseguisse levar a joia apenas escondida num bolso... estava encostado ao muro do galinheiro, rodeado de gansos, e me veio a ideia... Minha irmã me prometeu um ganso de presente de Natal. Entrei no galinheiro e peguei uma das aves, uma grande, com listas no rabo. Forcei o bicho a abrir o bico e enfiei a pedra no papo do ganso. Ele bateu asas e lutou um bocado, senhor, fazendo uma tremenda algazarra... foi quando mi¬nha irmã ouviu o barulho e correu até o quintal. O susto de vê-Ia foi tal, que acabei soltando a ave. -O que está fazendo com esse ganso,Jim?-ela perguntou. Respondi que tinha vindo buscar a ave que ela me prometera de presente de Natal. -Ah!, mas já separamos esse cinzento para você -ela respondeu. -Obrigado, Maggie -eu falei -, mas prefiro aquele que eu estava segurando. -Que besteira, Jim! -disse Maggie -O cinzento pesa três quilos a mais. -Quero o branco com listas na cauda -falei. Claro que Maggie ficou irritada com minha insistência, mas matou o ganso escolhido e eu o levei, tranquilamente, para a casa do meu comparsa. Contei o que tinha feito e ele deu muita risada. Tratamos de abrir o papo do ganso e oh, desgraça! Não havia sinal da pedra. Na confusão e no meu terror, havia escolhido a ave errada, senhores! Voltei à casa de minha irmã, mas o destino conspira¬va contra mim. Maggie já havia entregado as aves, para o vendedor do mercado, aquele famigerado Sr. Breckinridge, que se recusou absurdamente a me dizer para quem havia vendido os gansos. Maggie pensa que estou ficando louco e começo a acredi¬tar nisso também, senhores! Sou agora um ladrão marcado, sem jamais ter tocado na riqueza pela qual perdi o caráter... Deus me ajude! Ryder começou a chorar loucamente, as mãos tapando o rosto. Um longo silêncio. O único ruído era o bater dos dedos de Sherlock Holmes sobre a mesa. Repentinamente, meu amigo se levantou e abriu a porta: -Saia!-disse. -Oh, senhor, Deus o abençoe! -Não diga mais nada, saia! Nem eranecessáriodizercoisaalguma.Rydercorreualucinado para fora e só ouvimos o bater ruidoso da porta da rua. Eu olhava espantado para meu amigo. Afinal, Holmes esclareceu, pegando devagar o cachimbo: -Não sou empregado da polícia, Watson, para consertar seus erros. Horner não estará em perigo, porque devolverei o diamante e mandarei um bilhete explicando que ele de nada participou. Não há provas contra o encanador -Holmes suspirou. -Talvez esteja sendo cúmplice, deixando Ryder fugir, mas estou salvando sua alma. Continuei calado. Holmes prosseguiu: -Ele não cometerá mais nenhum furto. Está apavorado.Se eu o mandar para a cadeia, é capaz de o infeliz ter um curso completo de,ladroagem.Edepois,Watson... -meuamigosorriu. -Esta não é a época de fraternidade e perdão? Tratei de dar os merecidos parabéns a Holmes, pelo caso tão brilhantemente resolvido. o conto Thr 81urCarbunclrfoi publicado na revista Thr StranaMagaz;IJ(,em janeiro de 1892, e no livro Thr Aav"'tllrtS oJShrrlockIlollllrs, no mesmo ano.

O ritual Musgrave - Para o 7° ano

O ritual Musgrave UMA DAS GRANDES contradições de meu amigo Sherlock Holmes é ser um dos homens mais racionais e organizados no combate ao crime, mas completamente desleixado nos hábitos pessoais. É verdadequenãosou tãoobcecado por limpeza como meus colegas médicos, já que servi no exército nos desertos do Afeganistão e tive que me adaptar às circunstâncias, mas perto de Holmes pareço um nobre. Nosso apartamento na Rua Baker, 221B, vive atulhado de equipamentos científicos, relíquias de crimes, recortes de jornais e coisas semelhantes. Um dos objetos que sempre me desperta a curiosidade é um arquivo enorme, repleto de fichas com antigos casos de Holmes. Certo dia, Sherlock se pôs a rever aqueles papéis. Pegou uma ficha e leu-a durante um bom tempo. Afinal, virou-se para mim e disse: -Watson, creio ter aqui um caso bem interessante, um dos primeiros que desvendei. Talvez você se interesse em registrá-lo, numa dessas crônicas que tão bem escreve a res¬peito de meus dons dedutivos. -Sobre o que é, Holmes? -interessei-me. -Eu o batizei de ritual Musgrave... Eis aqui a história, como me foi contada pelo próprio Holmes. Estava começando a usar meus dotes dedutivos na profissão de detetive particular, quando fui procurado por Reginald Musgrave. Estudamos juntos no colégio, mas nunca fomos íntimos. Mesmo assim, ele acompanhava meu sucesso na carreira e foi por esse motivo que me procurou. Fazia quatro anos que não via Reginald. Lembrava dele como uma pessoa elegante, suave no falar e calmo em anali¬sar a vida e as pessoas. Por isso, estranhei que meu ex-colega de escola aparecesse em casa com um jeito apreensivo, quase nervoso. -Como estão as coisas, Reginald? -perguntei. -Você deve saber, Holmes, que meu pai faleceu há dois anos. Desde então herdei as propriedades de Hurlstone e tenho muito trabalho em administrá-las... -houve uma pausa ansiosa em nossa conversa. Afinal, ele completou: -Sei que você está usando profissionalmente os talentos com que nos espantava na escola. -É verdade. Tenho resolvido alguns casos -respondi. -Eu gostaria de contratá-lo. Em Hurlstone andam acon¬tecendo coisas estranhas e gostaria muito de contar com sua ajuda profissional. Pedi que' meu amigo desse mais detalhes e o ouvi com atenção. -Você sabe que, mesmo sendo solteiro, preciso manter em Hurlstone um grande quadro de empregados.Temos oito cria¬das, a cozinheira, o mordomo, dois lacaios e um menino, além do pessoal que cuida do jardim e dos estábulos. Desses criados, quem trabalhava para nós há mais tempo era Brunton, o mordomo. Era professor e estava desempregado quando foi contratado por meu pai. Tinha muita energia e caráter e logo se mostrou indispensável na casa. Brunton era alto, bem-apessoado, e embora estivesse conos¬co há mais de 20 anos, tinha 40 e poucos anos. Sabia falar várias línguas e nos espantava que um homem com tantos talentos aceitasse o emprego de mordomo, ganhando menos do que poderia. Suponho que lhe agradasse morar no campo e visse a profissão com certo comodismo. Aliás, não havia quem nos visitasse em Hurlstone que não se lembrasse de nosso mordomo. Mas todo modelo de virtude tem seu ponto fraco. O de Brunton eram os rabos de saia. Um bocado dom-juan, o nosso mordomo. Quando era casado, tudo ia bem. Acontece que ficou viúvo e a nossa luta com ele não tinha fim. Pensamos que as coisas se acertariam quando Brunton ficou noivo de nossa caseira, Raquel Howells. Mas ele desfez o compromisso e começou a cortejar outra moça. Raquel, que é uma moça muito boa, mas muito suscetível, adoeceucomorompimento donoivado.Teveumafebreterrível e quasemorreu. Apobremoçasalvou-se,masacaboucomuma sequela, um olho torto. Andava pela casa feito alma penada e esse foi o primeiro drama que aconteceu em Hurlstone. O segundo foi a demissão de Brunton. Eu lhe disse, Holmes, que o homem era inteligente. E isso foi a causa de sua ruína. Foi essa inteligência que o levou a uma curiosidade insaciável sobre coisas que não eram da sua conta. Hurlstone é um casarão esparramado. Na semana passada, na quinta-feira à noite eu não conseguia pegar no sono. Às duas da manhã resolvi continuar o romance que estava lendo e fui buscar o livro que tinha deixado no salão de bilhar. Para chegar lá, tinha de atravessar a biblioteca e a sala de armas. Imagine minha surpresa, Holmes, quando, olhando para o fim do corredor, vi o brilho de uma luz quevinha da biblioteca. Encontrei o mordomo sentado numa poltrona, com um papel nos joelhos semelhante a um mapa. Vi ele se levantar e pegar um dos livros, voltando a fazer anotações. Eram do¬cumentos de minha família, Holmes, e fiquei furioso. -Então -gritei com ele -é assim que retribui a confian¬ça que sempre tivemos no senhor? Considere-se despedido.Saia amanhã mesmo. O homem ficou pálido, Holmes, mas não perdeu a pose. Arranquei de suas mãos os papéis que consultavae me espantei em ver que era apenas uma cópia das perguntas e respostas de um velhojuramento familiar,batizado de ritual Musgrave. E uma cerimônia especial, que cada Musgrave, quando che¬ga à maioridade, tem de repetir diante dos membros da casa. Aquilo sempre me pareceu um amontoado de frases sem sen¬tido, quando muito, poderia interessar a um arqueólogo, mas nada para atrair a atenção de um simples mordomo. -Você pode explicar esse ritual depois, Reginald -falei. -Conte mais sobre o mordomo. -Então, Holmes, Brunton me surpreendeu com um pedido. -Sr. Musgrave -ele falou, com a voz cheia de emoção -, cu imploro,' não posso sofrer essa desonra. Sempre fui fiel ;1sua família e não conseguiria suportar a vergonha de uma demissão. Por favor, dê-me um mês. Depois disso, posso sugerir que saí por minha própria vontade. -O ato de bisbilhotice que você cometeu hoje não me¬rece muita consideração -eu respondi, mas, em memória de meu falecido pai, que gostava tanto de você, vou reconside¬rar. Dou-lhe uma semana para arrumar outra ocupação. Brunton ainda tentou discutir, mas percebeu que era inú¬til e conformou-se com o prazo. Nos dois dias seguintes, o mordomo foi impecável como sempre. No terceiro dia, porém, ele não apareceu para rece¬ber as instruções, depois do meu café da manhã, como era costume. Ao sair da sala, encontrei a criada Raquel, que es¬tava muito pálida e abatida. Ela vinha de uma grave doença e a repreendi por voltar tão cedo ao trabalho. -Eu já estou me sentindo bem melhor, senhor -ela respondeu. -Vamos ver o que o médico vai dizer. Diga a Brunton que quero vê-lo. -O mordomo Brunton se foi, senhor -ela respondeu. -Foi? Para onde? -Ninguém o viu. Não está no seu quarto. Oh!, sim, ele se foi... -e a pobre moça teve um acesso de riso histérico e se pôs a gritar feito uma demente. A criada foi levada até seus aposentos e revistei o quarto de Brunton. Realmente,ele tinha desaparecido.O estranho era que elenão havialevadonada,nemmesmo osobjetos pessoais. Outro mistério: como poderia ter saído, se todas as portas e janelas da propriedade ficavam trancadas até de manhã? Claro que reviramos a casa inteira, do porão ao sótão, mas não achamos o mordomo. Esse desaparecimento seria um grande mistério, Holmes, se a ele não se juntasse outro: a criada Raquel também de¬sapareceu misteriosamente! Raquel ficou de cama, doente, por dois dias. Contratei uma enfermeira para cuidar dela, mas numa noite a mulher adormeceu e, de manhã cedo, a enferma tinha desaparecido! Chamei os empregados e demos nova busca na casa inteira. Dessa vez, porém, achamos uma pista bem desagradável. Debaixo da sua janela havia pegadas que se dirigiam à lagoa. À sua margem, as pegadas desapareciam perto de um cami¬nho de pedra que segue para os campos. Buscamos ganchos, acreditando que acabaríamos pescando o corpo da pobre suicida. Não achamos um cadáver, mas os operários resgataram um objeto dos mais inesperados. Era um saco de linho, com grande quantidade de metal antigo, enferrujado, além de pedaços de pedras e vidros, tam¬bém descorados pelo tempo. Pois bem, Holmes, aqui termina minha história. Apesar de todas as pesquisas de meu pessoal e da boa vontade da polícia local, não há o menor traço de Richard Brunton ou de Raquel Howells. É por esse motivo, Holmes, que estou recorrendo a você, como minha última esperança de solucionar esse mistério tão grande. Ora, Watson, imagine como fiquei ansioso em resolver esse caso! O mordomo havia desaparecido. A criada, que o amava e depois tinha motivos para odiá-lo, sumira também. Ela tinha sangue galês, furioso e apaixonado. Antes do su¬miço do homem, a criada teve uma crise nervosa. Atirou no lago um saco contendo objetos estranhos... Imediatamente comecei a juntar os pedaços da história. Tinha de haver um ponto de ligação em tudo aquilo. -Reginald -falei para meu amigo -, preciso ver o tal papel que seu mordomo acreditava ser tão importante. -Ora -respondeu meu ex-colega de escola -é uma tolice arqueológica. Um ritual que só interessa porque é bem antigo. Tenho aqui uma cópia das perguntas e respostas. Se quiser vê-lo... Reginald me passou o papel que ainda guardo em meu arquivo.Leia,Watson.Cada Musgrave,ao chegar à idade adulta, tem de recitar em voz alta esse jogo de perguntas e respostas: - De quemera? - De quem se foi. - De quem será? - De quem vier. - Onde estava o sol? - Sobre o carvalho. - Onde estava a sombra? - Debaixo do olmo. - Como chegar? - Norte, dez e dez; leste, cinco e cinco; sul, dois e dois; oeste, um e um, então embaixo. - O que daremos por ela? - Tudo o que é nosso. - Por quê? - Pela confiança. O original devia ser de meados do século dezessete, foi oque me disse Reginald. Mas ele não acreditou que o ritual meajudasse a resolvero caso do desaparecimento dos criados. Não foi o que eu pensei, Watson. E disse isso a ele: - Desculpe-me, Reginald, mas acho que o mordomo eramais inteligente e lúcido do que dez gerações de seus patrões. - Como assim? - espantou-se ele. - Diga-me... na noite em que você flagrou o mordomona biblioteca, disse que o homem estava com algo semelhantea um mapa? - Foi o que me pareceu. - E ele conhecia o ritual? - Claro. Ninguém iria esconder uma bobagem dessas. - Caro amigo, para encontrarmos a resposta, teremos defazer uma pequena viagem. Na mesma tarde, eu e Reginald chegamos a Hurlstone.Uma propriedade magnífica, Watson! Uma construção emforma de L: a parte mais comprida, a mais nova, e a maiscurta, a mais antiga. Debaixo da pesada porta de madeira está entalhada umadata - 1607 -, mas as obras de madeira e pedra são narealidade bem mais antigas. As paredes são extremamentegrossas, e as janelas, muito altas. A parte antiga servia comoadega e armazém, apenas a parte nova era usada como moradia.Em volta da casa, jardins esplêndidos e um lago. Watson, eu tinha certeza de que não havia nessa históriatrês mistérios separados, mas apenas um, que envolvia o talritual Musgrave. Se soubesse decifrá-lo, mataria a charada. Dei uma boa olhada pelos terrenos e vi um carvalho, umadas árvores mais frondosas que eu já tinha visto. -Reginald, essa árvore estava aqui quando o ritual foi escrito? -eu perguntei. -Acredito que sim. Os carvalhos vivem mais de 200 anos. Havia encontrado um dos pontos de referênciado ritual! -Diga-me, Reginald, existe aqui algum olmo? -Havia um, que foi queimado por um raio, há uns dez anos, e precisou ser cortado. -Lembra onde ele ficava? -Claro! Andamos até o lugar. Reparei que o olmo ficava exata¬mente entre o carvalho e a casa. -Tem ideia da altura do olmo, Reginald? -Sessenta e quatro pés'. Tenho certeza disso porque meu professor de matemática costumava me passar exercícios com comprimentos, larguras e alturas de construções e árvores da nossa propriedade... Mas o que isso tem a ver com o desaparecimento de Brunton e de Raquel? Apenas sorri, Watson. Era um bom golpe de sorte. Perguntei: -Seu mordomo alguma vez perguntou sobre a altura do olmo? Espantado, Reginald confirmou que sim, há alguns meses. Olhei para o sol. Estava baixo no céu, calculei que em menos de uma hora bateria exatamente em cima dos mais altos galhos do carvalho. O extremo mais longo da som¬bra devia apontar o local escolhido como baliza. Teria de calcular o ponto final da sombra, onde o olmo estivera antigamente. Era um bom desafio, mas se Brunton conseguiu resolvê-lo,achei que também conseguiria. Fui a um depósito e pro¬curei uma estaca. Amarrei nela uma longa corda, de seis pés de comprimento. Fiz alguns cálculos um tanto complicados para explicar agora, mas, ao esticar a corda, seguindo a li¬nha que nos levaria à sombra do olmo, animei-me! A ponta da corda batia praticamente em cima de uma depressão no terreno. Deveria ser uma marca feita por Brunton em suas medições. Eu seguia sua pista! Comecei a andar, seguindo os pontos marcados na bússola. Dei dez passos para o norte e caí rente ao muro da casa. Marquei o lugar com outra estaca. Dei cinco passos para leste, dois para o sul. Estava diante da porta antiga. Dois passos para o oeste mostraram que deveria descer um caminho de pedras: esse era o local marcado pelo ritual. Ah, que desapontamento, Watson!Era um piso, com granitos tão unidos e sólidos como se não fossem movidos há décadas, talvez séculos! Brunton não poderia ter cavado ali. Mas Reginald, que acompanhava minhas investigações tão excitado como eu, lembrou de outra indicação do ritual: -É embaixo! -gritou ele. -Você se esqueceu do "e então embaixo". -Imaginei que teríamos de cavar, mas é impossível cavar estas pedras... -eu falei. -Mais abaixo ainda, Holmes! Estas pedras são o teto do porão, tão antigo quanto a casa.Venha comigo, por essa porta. Descemos por uma escada em espiral. Meu amigo riscou um fósforo e acendeu uma tocha, que estava afixada na pa¬rede. Pelas marcas de pés nos degraus, percebemos que não éramos os únicos a visitar o local recentemente. Em outros tempos, o lugar servira de depósito de lenha. A madeira porém estava afastada para a parede, revelando um círculo redondo, uma laje no chão, com uma alça de fer¬ro enferrujada no centro, onde estava amarrado um pano. -É o cachecol de Brunton! -gritou Reginald. -O que faz aqui? Como resposta, toquei na alça de ferro. A laje era pesada demais. Por minha sugestão, Reginald chamou dois guardas da aldeia. Esperamos ansiosos por sua chegada. Quando os dois policiais chegaram, eu e eles levantamos a pedra e encontramos um pequeno porão, fedendo a po¬dridão e mofo. De um lado, havia uma caixa de madeira podre, o que deveria ter sido um baú, com moedas de metal dentro. E do outro... Ah!, Watson, o que vimos no outro canto da câmara. Era um homem vestido de preto, ajoelhado, com o rosto mergulhado sobre o tesouro e abraçando a caixa apodrecida. O policial moveu o corpo, e vimos um rosto disforme, da cor do fígado. Era o mordomo desapareci¬do. Estava morto há alguns dias, mas o exame não reve¬lou nenhum ferimento, como uma facada ou tiro. De que morrera o homem? Como viera parar ali? E a criada, o que tinha com o caso? Confesso que me decepcionei, Watson. Achava que loca¬lizando o lugar do ritual solucionaria o mistério. É verdade que havia localizado Brunton, mas não o motivo que o le¬vou a um fim tão trágico. Pensei, pensei muito... Você conhece meus métodos nes¬ses casos, Watson. Coloquei-me no lugar do mordomo. Era um homem inteligente, mais do que seus patrões, já que descobrira há tempos que o ritual era uma espécie de mapa do tesouro. Seguindo a sombra das árvores e fazendo cálcu¬los, topou com o porão e, ao remover a lenha, achara a pedra que escondia alguma riqueza. Era uma pedra pesada demais para um só homem erguê-la, o que poderia fazer? Ele não poderia arrumar um cúmplice de fora, alguém da cidade, mesmo se encontrasse alguém em quem confiar, pois corriao risco de ser descoberto. É provável que Brunton estivesse remoendo essas dúvidas há muito tempo, mas, como Reginald o havia despedido, ele teria apenas uma semana para sair, e teve de tomar uma rápida decisão. E quem melhor para ajudá-lo do que alguém da casa? Ora, Brunton sabia que Raquel era apaixonada por ele. Tinha poucos dias para localizar o tesouro, então deve tê¬-Ia seduzido com promessas... a moça aceitou o desafio e acompanhou o mordomo por aquelas catacumbas. Veja, Watson: um homem de 40 e poucos anos e uma jovem, diante de uma pedra pesadíssima. Eu e dois solda¬dos tivemos dificuldades em levantá-la. Repare no que falei, Watson: levantá-la...mas não seria difícil usar um ponto de apoio e empurrá-la para o lado, o suficiente para que desse passagem a um homem. Comecei a investigara lenha abandonada na adega,Watson, e logo topei com uma tora dentada numa ponta e tão achatada de um lado, como se um peso terrível a tivesse comprimido. Evidentemente, colocaram a tora na fenda, depois de terem deslocado a pedra. Rolaram a tora pela abertura, o suficiente para que Brunton pudesse entrar no porão. E agora, Watson, como reconstruir o drama daquela ma¬drugada? Um buraco tão estreito, era evidente que apenas Brunton caberia nele. O mordomo achou um saco de moedas, passou-o para cima. A moça, sua cúmplice,ficou à margem da tumba... que sentimentos passaram por sua cabeça? Qual seria o fogo ardente da vingança, que explodiu na alma daquela mulher apaixonada, abandonada pelo amante? Que instante de lucidez diabólica não deve ter-se apos¬sado da mulher, vendo o homem que havia destruído seus sonhos, assim à sua mercê, embaixo da pedra? Seria ela apenas culpada por silenciar sobre um acidente, na hora em que a pedra escapou... ou foi a sua mão que a empurrou, lacrando o túmulo sobre o homem que tanto mal lhe fizera? Fosse o que fosse, Watson, quase posso ver aquela figura de mulher agarrando-se ao tesouro, voando pelas escadas e ouvindo ecoar os gritos apavorados do homem sepultado pela pedra... Acredito que foi esse o mistério de seu rosto pálido, seus nervos arrebentados, no dia seguinte ao desaparecimento do mordomo. O que ela fez com a caixa? O que ela conteria? Creio que era o metal velho que os empregados pescaram da lagoa, depois que a criada desapareceu do quarto. Ela jogou tudo aquilo na água, sepultando o último rastro do seu crime. Eu estava perdido em meus devaneios, naquela tarde, quando Musgrave se aproximou. -São moedas do tempo de Carlos F -disse ele, seguran¬do algumas que tinham restado na caixa. -Reginald, podemos encontrar algo mais de Carlos II -gritei, lembrando-me do significado das duas primeiras perguntas do ritual. -Deixe-me ver o conteúdo do saco pescado na lagoa. Fomos à biblioteca de Hurlstone e meu amigo espalhou o conteúdo do saco sobre uma grande mesa de carvalho. Havia várias moedas, algumas gastas e enferrujadas, com o símbolo do rei em uma das f:1ces.O que mais me surpreen¬deu, contudo, foi um pequeno metal retorcido, preto, com pedras embaçadas presas nele. Peguei um pedaço de pano e comecei a dar brilho àquilo. Logo, tínhamos uma centelha dourada reluzindo em meio ao metal enegrecido! Musgrave não conteve um grito de espanto. -Holmes, mas o que é isso? -Isso, caro Reginald, se muito não me engano, é uma das mais gloriosas relíquias da história da Inglaterra. -O que é, Holmes? Não me deixe assim em suspense. -Nada menos que a antiga coroa inglesa. -A coroa! -Precisamente -respondi. -Lembre-se do que dizia o ritual: "De quem era?" "De quem se foi". Foi depois da execução de Carlos I "De quem será?" Seria de Carlos lI, que tomou posse como rei. Creia, meu amigo, esse ferro retorcido já enfeitou a fronte da casa real dos Stuarts. -Mas como isso foi parar na minha lagoa, Holmes? É verdade que meus ancestrais eram leais ao rei Carlos, mas... -Infelizmente, Reginald, nem mesmo todo meu arse¬nal de deduções poderia explicar a tragédia da família real inglesa daquela época. Não faço ideia de como a coroa foi parar nas mãos de um antepassado seu. -Carlos II nunca usou essa coroa, que se saiba -ele disse. -Provavelmente seu ante passado faleceu antes de entregá-la ao novo monarca -concluí. -Mas deu a pista para seus sucessores, na forma de um enigma, o tal ritual Musgrave, e pordezgeraçõesafamíliarepetiuoritual,sementender seu significado. Até que o mistério foi desvendado por um homem brilhante, que pagou essa descoberta com a vida. Sherlock Holmes terminou sua narrativa. Peguei a folha que continha a cópia do ritual, de maneira respeitosa. -E a mulher, Holmes? -Nunca mais foi vista, Watson. Creio que fugiu do país. Se for julgada um dia, o será por sua consciência e por Deus. Quanto à coroa dos Stuarts... está em Hurlstone. Os Musgrave tiveram de pagar uma série de taxas e deixar que especialistas a analisassem, mas conseguiram manter a preciosidade na família. -Gostaria de vê-Ia -disse, suspirando. -Ah!, isso é fácil. Posso redigir uma carta para Reginald. Tenho certeza de que se você se apresentar como meu amigo, os Musgrave terão prazer em lhe mostrar a relíquia -disse Sherlock, antes de suspirar fundo. Foi com o olhar perdido no ar que meu amigo concluiu sua história: -Moedas de ouro e uma coroa. Foi um bom resultado para o caso,não acha,Watson? Para colocar um ponto final no enigmado ritualMusgrave,segredoquevinhadedez gerações. o conto Thr MusgravrRitual foi publicado na rcvista TtJr Slralld Magazi/lf, cm maio dc 1893, e no livro Thr Mrl1loirsof ShrrlorkHoll1lrs.no ano seguinte.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Eu e minha profissão

Entre várias conversas com colegas de trabalho, percebo sempre muito desencanto e falta de entusiasmo com o trabalho. Não os recrimino, inclusive reconheço que essa prática tem se tornado cada vez mais difícil por diversos motivos.
Em razão disso me pego muitas vezes avaliando meu trabalho ou pensando em qual seria uma outra possível profissão à qual eu poderia me dedicar e não me vejo em nenhuma outra.
Acho mesmo que padeço de um 'mal' incurável: a educação. ( rsrss )
Acredito verdadeiramente que somos agentes formadores de opinião e até mesmo modificadores em vários aspectos da vida escolar e social.
Quero nesse breve texto dizer que AMO MUITO MESMO o que eu faço, que AMO DE PAIXÃO os meus alunos, que DESEJO INTENSAMENTE que eles superem as dificuldades e que se desenvolvam e cresçam no sentido mais amplo que essa palavra possa ter.

Se você chegou até aqui e leu esse texto, aproveite e clique no endereço abaixo e dê uma olhadinha nesse vídeo que foi exibido no Jornal Meio Dia na Rede Globo, em 16 de setembro de 2009, por ocasião de uma reportagem para o Concurso Repórter Mirim.

http://megaminas.globo.com/video/2009/09/16/criancas-se-mobilizam-para-o-reporter-mirim-2009

domingo, 13 de setembro de 2009

Um novo ser


Chegou assim, sem avisar.
Foi tomando conta.
Mudando tudo.
Os hábitos, a rotina,
alimentação e até o vestuário.

As emoções foram alteradas.
Você nem perguntou se poderia.
Aos poucos foi ocupando mais espaço.

Logo fui me acostumando com você.
E reconhecia o seu modo diferente de se comunicar.

Estava ali, tão presente.
Latente, cheio de vida.
Uma nova vida...

Meu ventre alojou esse novo ser.
Que me acompanhava
E me modificava,
Me moldava,
Me preparava
Para ser só sua.


Que ousadia!
Tão pequenino!
Já chegou mandando!
Achando que podia.

E, claro, podia.
Tinha todo o direito.
E era respeitado.
Aclamado, venerado.
Amado.
Esperado.


autora: Ires Fernandes dos Santos
15 de janeiro de 2009 )




A mão de Deus vai escrever mais um de seus milagres!!!

Se você crer que hoje é o tempo de vencer, acredite o céu diz que SIM!!!